sexta-feira, 13 de setembro de 2013


Perder um filho... 
(Cidadania em primeira pessoa)
Não é aceitável,
Não é tolerável,
Não é desejável.
É algo para não se enfrentar. Ter de ver, ali, o filho querido: pedra fria, corpo frio, inerte, insensível, impossível de abraçar.
Parece que foi ontem mesmo, que estavas  no meu colo, a chorar. E eu, sem saber o motivo, tentava adivinhar, preocupado, carinhoso, quase desesperado. 
     Não suportava as tuas lágrimas, não sabia os limites da tua fragilidade. 
     Ensinei-te a amar, com o meu amor. Ensinei-te a perdoar com o meu perdão: ávido e solícito, permanentemente disponível. 
     Ensinei-te a preocupar-te com os sentimentos e os motivos dos outros com a minha empatia, que é importante compreender que todos sofrem e que a primeira impressão, ou todas as impressões apressadas podem estar erradas e enganar as nossas percepções e, porisso, deve-se esperar e pensar mais um pouco, pensar melhor.
     No entanto, o tempo passou. E, tu, Sementinha, minha Sementinha, sementinha do meu amor, do nosso amor, tão belo e tão brilhante, cresceste. Tornaste-se planta e, depois, árvore. Frondosa e forte, de boas raízes. 
     Porisso, Sementinha do nosso amor, não compreendo, como esta árvore que te tornaste, tornou-se tão dura e indiferente. Não entendo como esta árvore, pode ignorar a grama, a terra aos seus pés. Ignorar as aves a cantar em torno de si. E ignorar até mesmo os raios do Sol que a iluminam todos os dias, mesmo naqueles em que chove muito.
     Ao ver esta árvore forte, frondosa e indiferente, tão insensível, o meu coração se contorce. Aperta como se visse um corpo frio na pedra fria. Sem coração e sem alma. Para onde foi o teu coração, Sementinha? Para onde foi a tua alma? Quando foi que esqueceste todo o amor que sempre te damos?
    O teu corpo, Sementinha, pode estar distante mas, para onde viajou a tua mente que ensinamos a pensar e pensava com tanta humanidade e amor? Quando foi que endureceste tanto, qual pedra fria sob frio e abandonado corpo?
    Hoje, choro a tua morte em vida, Sementinha. E sofro até mais do que se tivesses atravessado o "véu". O meu coração só quer te ver pequena e amorosa. A minha mente recusa-se a te mirar vazia, só quer lembrar de ti com os bracinhos estendidos para receber um abraço. Ouvir de ti o muxoxo emburrado de bebê mimado de tanto amor.
     O meu coração, Sementinha envelheceu 50 anos num momento, com uma única frase tua, ao saber-te tão diferente. Nunca pensei que um fruto pudesse cair tão longe de uma árvore ou o vento pudesse soprar uma semente para tão distante. Prefiro chorar a tua morte como verdade do que acreditar-te viva e capaz de machucar deliberadamente os sentimentos e esperanças das outras pessoas, até mesmo daquelas que te amam de verdade. 
     Hoje, o meu coração eleva uma prece sofrida e silenciosa aos céus, para encomendar a tua alma perdida, para pedir ao Pai de todos os homens, que te abençoe onde tu estiveres e possa te devolver, algum dia, a humanidade perdida.
     "Recebe, ó Pai, no teu seio amoroso a alma deste filho amado do teu filho. Lava com o Teu amor celestial as dores e as mágoas que embotaram no seu coração o amor que aprendi contigo, tentei com lealdade ensinar-lhe e pensei com açodamento e pressa ter conseguido. Enche-a com o Tua compreensão e o Teu perdão. Amém!"
(+05/09/2013)



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